06/06/2015 | Categoria: Mercado
Peru quer expandir parcerias na cadeia têxtil com o Brasil
Grifes brasileiras como Lita Mortari e Cavalera desembarcam no país e desenvolvem conexão com produtores locais
Lima, Peru - O governo peruano está empenhado em aumentar as vendas de sua indústria têxtil para o Brasil. O país é um dos principais alvos da Perú Moda/Perú Gift Show 2015, evento internacional, em Lima, que atrai compradores de todo o mundo, sendo 40 empresas da delegação brasileira. A aproximação entre os dois países visa — além de expandir os negócios para mercados mais amplos—, compensar a recente redução pela metade das encomendas da Venezuela, segundo maior comprador de fibra de alpacas e algodão pima, atrás apenas dos Estados Unidos.
A estratégia da organizadora da feira, a Promperu (Comissão de Promoção do Peru para Exportação e Turismo), é tecer relações diretas com compradores e eliminar a figura de atravessadores internacionais. Hoje, a indústria local soma 34 mil empresas — 95% são PMEs — e gera mais de 400 mil postos de trabalho, faturando cerca de US$ 2 bilhões anuais. Para isso, o órgão aposta na difusão do algodão de pima e da fibra de alpacas, além do rico trabalho dos artesãos locais, seguindo o sucesso alcançado com a exportação da história peruana, ancorada na cultura Inca de Machu Picchu, e na gastronomia, com o mundialmente conhecido ceviche. E ir além: mostrar a sofisticação dos produtores, repetindo a representatividade do mestre da fotografia de moda Mario Testino e do renomado chef de cozinha Gastón Acurio. É o Peru se reinventando e agregando valor aos seus produtos milenares.
“Estamos desenhando peças no Brasil, com temas andinos, e aproveitando os artesãos peruanos, que são ricos no trabalho de bordar”, conta Cony Paniagua, estilista brasileira da marca Lita Mortari, presente ao evento. Proprietária da marca, Eliane Penna Moreira fala de outras vantagens dos negócios com o Peru. Antes, a empresa comprava alpaca de fornecedores italianos, o que encarecia o produto.
“As ações têm sido muito eficientes, mostrando a capacidade da indústria têxtil local. Por que comprar alpaca da Itália se o Peru está ao nosso lado? Com a compra direta, mantemos a qualidade e o produto pode chegar mais barato ao consumidor. Dentro das tradições culturais, é possível ter uma concepção moderna”, explica Eliana, que emprega 80 funcionários em sua fábrica em São Paulo.
Esse caminho de parceria com produtores peruanos foi trilhado pela brasileira Cavalera há sete anos, com a compra de algodão de pima e também com a confecção de camisetas por produtores peruanos. Agora, a empresa parte para o licenciamento da marca no Peru.
“Estamos começando este ano o licenciamento. A ideia é trabalhar com lojas flagships. Porém, a venda em estabelecimentos multimarcas deve ser o caminho mais natural”, analisa Renan Guidon, gerente comercial da Cavalera. “Vamos respeitar o design da marca e ajustar o processo produtivo para vender no Peru, como modelagem e cartela de cores, por exemplo. É uma ‘tropicalização’ natural”, acrescenta.
A parceira peruana da Cavalera é a Algotex Peru, com cem empregados que produzem 100 mil peças mensais para marcas como Hugo Boss e Lacoste, cuja manufatura para América Latina sai do Peru. Afonso Tocon, gerente geral da confecção, conta que “o relacionamento do setor com o Brasil é recente e começou há 10 anos, mas o Peru tem cultura têxtil milenar e produz para as maiores marcas do mundo.”
É o caso da Intratesa, que fornece peças feitas com algodão pima para as brasileiras Mundo do Enxoval e Ricardo Almeida — peças inteiramente prontas e também a partir de design brasileiro. “Por não haver concorrente brasileiro, a taxação do algodão pima é menor e o produto chega ao Brasil com bons preços”, avalia Silvia Aray, gerente da Intratesa, que fatura US$ 5 milhões por ano. “Nossos negócios com as marcas brasileiras começaram há apenas um ano e representam 5% das nossas vendas. Estimamos que podemos chegar a 20% do total.”
Fonte:
Brasil Econômico